Artigo: Economia circular e agronegócio
Com recursos naturais finitos, por quanto tempo seria possível manter o modelo econômico linear, de extrair, transformar e descartar? Com base nesse questionamento surge o conceito de economia circular, que consiste em reutilizar, reduzir e recuperar materiais e energia.
Apoiada em três pilares: eliminar resíduos e poluição, manter produtos e materiais em ciclo de uso e regenerar sistemas naturais, a economia circular já está presente em nosso dia a dia como, por exemplo, na reciclagem, com transformação de resíduos e na logística reversa, em que os materiais utilizados retornam ao processo produtivo ou são descartados de forma apropriada, tendo em vista a preservação ambiental.
Para entender melhor esse conceito, é possível analisar o caso do comitê de organização das Olimpíadas de Tóquio 2020, que tem criado diversas inciativas sustentáveis. A Tocha Olímpia, já lançada, foi produzida com resíduos de alumínio recuperados de alojamentos temporários das vítimas do tsunami de 2011.
Além disso, as 5 mil medalhas distribuídas serão produzidas a partir de metais coletados de dispositivos eletrônicos usados. Em sua campanha, o comitê arrecadou 47 mil toneladas de dispositivos eletrônicos, como notebooks, videogames e celulares, que resultaram em 30 toneladas de ouro, 4 mil toneladas de prata e 2,7 mil toneladas de bronze.
A economia circular traz a necessidade de um modelo de negócio que considere todo o ciclo do produto como oportunidade de novas formas de atuação no mercado e, consequente, a redução de desperdício ou de geração de resíduos.
Exemplo disso é o setor sucroenergético brasileiro, em que a cana-de-açúcar é cultivada com utilização reduzida de insumos, em virtude do controle biológico de pragas e adubação orgânica. Após a produção de açúcar e etanol, a vinhaça se torna fertilizante, enquanto o bagaço produz bioeletricidade.
Voltando os olhos para os resíduos no mar, a Fundepag, instituição da qual sou diretor executivo, apoiou a pesquisa do Dr. Luiz Miguel Casarini sobre a pesca fantasma, já que diariamente os petrechos abandonados, perdidos ou descartados no mar causam a morte de animais marinhos, tendo impactos ambientais e econômicos.
Há diversas iniciativas nesse sentido, destacando-se a manufatura reversa das redes de pesca, que maximiza o ciclo de vida do material, reutilizado para gerar produtos como cabides e pentes, além de moldes de telha para a construção civil.
Um diferencial para as empresas que trabalham com esse material é o de inserir lacres nas redes de pesca, o que permite a rastreabilidade e, consequentemente, possibilita a construção de uma narrativa de conscientização ambiental, gerando produtos de alto valor ambiental agregado (upcycling).
Para ampliar os benefícios econômicos e ambientais da manufatura reversa das redes, é necessário investimento em pesquisas que possam analisar novas possibilidades para utilização do material, fomentando a indústria de transformação de plásticos do Brasil, que já conta com mais de 10 mil empresas, e emprega diretamente mais de 300 mil pessoas.
Deixar um mundo melhor para as próximas gerações, apoiando o desenvolvimento de soluções inovadoras que aliem eficiência no agronegócio e respeito ao meio ambiente, é uma missão Fundepag.