Artigo: Biodiversidade e negócios sustentáveis pelas lentes do meio físico
Nesses tempos difíceis, a ciência voltou a ser reconhecida e valorizada. Mas é razoável que se valorize o desenvolvimento científico e tecnológico vinculado às políticas públicas e às necessidades cotidianas da sociedade apenas em momentos assim?
Eu digo que não.
Vivemos, comemos, bebemos, respiramos, transportamos, buscamos abrigo seguro e produzimos todos os dias. E isso só se faz de maneira eficiente com base na ciência.
O Estado de São Paulo e a ciência
O Estado de São Paulo responde por um terço do PIB brasileiro. Com muito esforço, construiu a maior rede de educação superior, pesquisa, inovação e desenvolvimento tecnológico do país.
Hoje, suas principais universidades públicas - Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) - figuram entre as melhores não só do Brasil, mas do mundo, e cumprem um papel fundamental na educação e no oferecimento de ciência vinculada aos grandes temas.
De forma complementar, construiu-se a mais completa rede de institutos de pesquisa no país - as Instituições Científicas e Tecnológicas do Estado de São Paulo (ICTESP) - que apoiam a sociedade em assuntos emergenciais, específicos e vinculados às necessidades corriqueiras dos paulistas, sejam eles gestores públicos, moradores, produtores rurais ou industriais, entre outros.
Este é um dos segredos de São Paulo.
A Secretaria Estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente (SIMA) conta com o apoio diário de parte dessas instituições. E cabe ao Instituto Geológico (IG), do qual sou diretora geral, aprofundar e atualizar o conhecimento sobre o meio físico para viabilizar a sociedade como nós a conhecemos.
É neste contexto que ampliamos nosso leque de parcerias com a iniciativa privada, otimizando nossa experiência pioneira iniciada na década de 1950, a partir da descoberta de riquezas minerais e da celebração de contrato com royalties oriundos de sua exploração econômica. Trata-se de trabalho que viabilizou e viabiliza pesquisa que salva vidas, conserva a natureza e promove ainda mais o desenvolvimento paulista.
O futuro do protagonismo paulista
Para manter a inteligência paulista que nos trouxe a este lugar de protagonismo econômico em nível nacional e internacional, vale pensar nos ingredientes mais importantes da vida contemporânea: casas, estradas, água, solo e clima são alguns exemplos.
Como seria a nossa vida e a economia paulista sem o esforço cotidiano de pesquisa dos ICTESP que garante o acesso a estes ingredientes?
Proteção de solos
Uma estrada ou uma ferrovia que cede sob as chuvas representa muito mais que biodiversidade afetada, pedras rolando e terra caindo. Quando não causa danos humanos - algo inaceitável, um evento como esse interrompe o fluxo de caminhões, trens, veículos leves e ônibus, ou seja, de carga e de trabalhadores, com impactos econômicos que geram prejuízos imensos.
De forma preventiva, no Instituto Geológico, fazemos análises contínuas em campo, depois refinadas em escritório, que buscam entender e evitar que estes acidentes naturais ocorram. Dado o cenário de mudanças climáticas e a complexidade do nosso território, quando estes eventos ocorrem, lá estão os pesquisadores e técnicos do Instituto Geológico junto da Defesa Civil do Estado, além de outros parceiros, em plantão, ajudando a salvar vidas e a retomar a economia.
O Instituto Geológico vai além e também analisa conjuntos de dados para mapear pontos com maior risco de erosão, auxiliando, com isso, a proteção de um de nossos maiores patrimônios: os solos paulistas.
Água
Toda sociedade demanda água potável. E, novamente, aqui está o Instituto Geológico, junto de parceiros importantes como a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), conhecendo melhor e estudando formas de conservar e recuperar os vitais aquíferos presentes no Estado. São milhões de pessoas e bilhões de reais investidos que precisam deste valioso recurso.
Enfrentamento das mudanças climáticas
Um dos efeitos das mudanças climáticas que já é sentido, consiste no aumento do nível do mar e na alteração da dinâmica costeira. E, mais uma vez, aqui está o Instituto Geológico, junto de parceiros como as universidades, produzindo séries históricas de dados que permitem fazer modelagens impressionantes - inclusive sobre impactos econômicos nos municípios costeiros, viabilizando, assim, as necessárias políticas públicas de adaptação. E isto é apenas o começo.
Precisamos ter capacidade para rever, urgentemente, os principais indicadores em função do novo cenário climático, que afetará a análise de riscos de erosão e de acidentes naturais, proteção de aquíferos e outros instrumentos que viabilizam a nossa vida.
Biodiversidade
Por fim, destaque-se a riqueza em biodiversidade e como as unidades de conservação, entre outras áreas protegidas como os Monumentos Geológicos, representam uma base importante para a economia estadual. E aqui está o Instituto Geológico, lado a lado com parceiros como a Fundação Florestal, o Instituto Florestal, o Instituto de Botânica e a Coordenadoria de Planejamento Ambiental da SIMA (CPLA). Nossa atuação foca em estudos para criação de novas áreas protegidas, além do desenvolvimento de planos de manejo das áreas protegidas. Turismo, regulação climática e produção de água são apenas alguns exemplos dos serviços ambientais de valor inestimável fornecidos por estes territórios.